"Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: "Os dias ficaram lindos".
Acontece em Abril, nessa curva do mês que descamba para a segunda metade. Os boletins meteorológicos não se lembraram de anunciá-lo em linguagem especial. Nenhuma autoridade, munida de organismo publicitário, tirou partido do acontecimento. Discretos, silenciosos, chegaram os dias lindos.
E aboliram, sem providências drásticas, o estatuto do calor. [...]
A cor. Redescobrimos o azul correto, o azul azul, que há meses se despedaçara em manchas cinzentas no branco sujo do espaço. O azul reconstituiu-se na luz filtrada, decantada, que lava também os matizes empobrecidos das coisas naturais e das fabricadas. A cor é mais cor, na pureza deste ar que ousa desafiar vapores, emanações e fuligens da era tecnológica. E o raio de sol benevolente, pousando no objeto, tem alguma coisa de carícia.
(...) certos dias de abril e maio são mais lindos do que os outros dias em geral, e nos integram num conjunto harmonioso, em que somos ao mesmo tempo ar, luz, suavidade e gente."
[Carlos Drummond de Andrade]
Foto: Wolney Fernandes
2 comentários:
Essa sutil diferença dos dias de abril são, para mim, uma lufada de vida! Realmente, o céu é outro! O sol não agride, ele aquece do discreto friozinho! Podemos tomar sopas e vinhos! E o cheiro do ar? Indescritível!
Tenho anunciado, desde o início do mês, como amo tudo isso!
Você ouviu, foi?
coisa linda!
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